sábado, 15 de junho de 2013

Artigo - A Gota que Faltava

Bêbado, de novo. Chegou tarde, cheirando a bordel. Tentou acordar a mulher às duas da madrugada, perguntou pela janta, pediu que estendesse a mesa. Ela não ouviu, embotada de sono. Resolveu despertá-la com um soco. Desferiu sem dó. Ouviu um choro ressentido, esqueceu da fome e dormiu. No dia seguinte, não foi trabalhar.


Semana passa e ela sempre perdoa. Capricha na maquiagem para disfarçar o hematoma. A rotina se repete por anos. Vamos tentar de novo, só mais uma vez, só mais uma vez.

Ela chega do trabalho cheia de planos. Queria contar das possibilidades que se abriram na empresa, queria ter alguém com quem se abrir. Ela tenta de coração, ele se faz de surdo e continua assistindo TV. Qualquer reprise é mais interessante do que essa ladainha. Há anos é assim, por que ela ainda não aprendeu?

Poucas horas depois ele quer sexo. Ela quer carinho. Esboça uma tentativa de beijo, afaga a nuca, sempre cuidadosa com a lingerie. Ele não liga. Tira a roupa, ele diz. Impotente, ela tira. Aqui não tem tapinha para dar um grau no tesão. É um sexo com gosto de surra.

Festa da família ele não vai. Casa de amigos ele não vai. Quem decide o programa é ele. Faltou dinheiro esse mês, ele vende a louça que ganharam no casamento. A cristaleira que ela amava tanto, presente de vó. Sem consulta, sem dor na consciência. Ela reclama, ele atira pratos na parede. Com um dos cacos, corta o braço dela. Ele achava graça em como a pele dela era frágil. Você é tão fraca, ele dizia.

Acordam juntos, ele vai tomar banho. Sai do chuveiro, deixa a toalha molhada em cima da cama e vai trabalhar. Toalha molhada. De novo. De costas para a cama, ele se veste. Ela pega o abajour de porcelana, silenciosamente. Pé ante pé. Golpeia-o na cabeça. Ele cai, desmaiado, e ela não se cansa de bater, enfurecida. Grita até perder a voz. A poça de sangue se forma, mas é coisa pouca perto do rio de mágoa que mora dentro dela.

No dia seguinte, a vizinhança inteira comenta:
“Maldita a mulher que mata o marido por conta de uma toalha molhada.”

“Maldito o povo que se revolta por conta de 20 centavos.”


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Fotos e vídeos do artigo vieram desse tumblr, que está sendo atualizado constantemente com mais fotos e vídeos dos manifestos.
Eduardo Amuri

Fascinado por cultura, viagens, pessoas e mudanças. Estuda a relação do homem com o dinheiro e dedica-se a entender de que maneira nosso potencial financeiro pode ser utilizado para transformar nossas vidas. Está para o que vier. | www.amuri.com.br

Via Papo de Homem

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